quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010


Depoimento do Jornalista
Padre Alves Damasceno


O Carnaval de Maceió, começava, podemos assegurar, quinze dias antes. No Centro, onde, outrora, era localizado o Relógio Oficial – confluência da Rua do Comércio e do Livramento (Senador Mendonça), era armado o Palanque Oficial do qual, todas as noites, a Rádio Difusora de Alagoas, com o seu famoso prefixo ZY-04, transmitia, nas vozes de Miguel Correia de Oliveira e Castro Filho, as animadas Maratonas Carnavalescas. Orquestras de Sopro e Percussão executavam os frevos de rua e/ou canção, tanto os tradicionais como os que faziam sucesso no momento, geralmente, “importados” do Recife ou do Rio de Janeiro. Vez por outra, apareciam alguns de compositores alagoanos – Cavalcante Barros, Nilton de Oliveira, Geraldo Lopes, Aldemar Paiva, Passinha – defendidas pelas vozes de Pedro Lima, Ernande Silva, Marlene Santos, Hibernon Tenório, Juvenal Lopes, Setton Netto, Cláudia Maria, José Elias e tantos outros valores, em sua maioria, já desaparecidos.
Na noite do Sábado de Zé Pereira, o Carnaval era, oficialmente aberto. Sobre o Palanque Oficial, o Prefeito de Maceió entregava, solenemente, a chave da cidade à sua Majestade Rei Mono I e Único que, em carro alegórico, saudava a multidão, sentado no seu trono, com beijos e acenos. Os blocos carnavalescos desfilavam em seguida e eram muitos. Cada um mais bonito e mais animado que o outro. “Cara Dura”, “Morcegos”, “Cavaleiro dos Montes”, “Lavadeiras na Folia”, “Vulcão”, “Bomba Atômica”, “Marítimos”, “Sai da Frente”, “Vou Botar Fora”, “Motoristas na Folia”, “Amigo da Onça”, “ Vareta de Aço”, “ Pitanguinha vai à Lua”, todas com os seus integrantes fantasiados e o povão atrás, acompanhando, dançando a noite inteira e percorrendo toda extensão da Rua do Comércio que, todos os anos, era ricamente ornamentada, com bandeirolas, gambiarras, pórticos e as tradicionais figuras do Palhaço, Arlequim, Colombina, Pierrô, Esqueletos, tudo de conformidade com a tradição firmada pela “Comédia Dell’ Arte” italiana.
Famílias inteiras desfilavam fantasiadas, grupos de jovens com o mesmo tipo de roupa, “marinheiros”, “havaianas”, “cowboys”, “piratas”, “fantasmas”, “laursas”, cavalos marinhos, burrinhas...era uma festa só, sem contar com os mascarados. E o povo jogava confetes ou serpentinas, travando verdadeiras batalhas.
Haviam os grupos de críticos – colocavam, em evidência, levando ao ridículo, as coisas da política, acontecimentos, marcantes. Rapazes travestiam-se de mulher, dançava-se e cantava-se em plena rua, tudo dentro da melhor ordem, levando alegria aos presentes, sempre observados, ao longe, pelas patrulhas mistas do Exército e da Polícia Militar, mas, era raro haver qualquer alteração.
Haviam mais dois palanques: um , na confluência da Rua do Comércio com a Primeira de Março(Moreira Lima) e outro na Praça dos Martírios (Marechal Floriano).
Da turma que fazia as críticas, restam poucos vivos, como Bráulio Leite Júnior, Alipão, Rubens Camelo, Cavalcante Barros. Entre os que já foram, Saleiro Pitão, Nilton de Oliveira, Josué Júnior e Fusco (este, o maior de todos).
Um casal, todos os anos, desfilava com fantasias bonitas e originais, tornando-se legenda no Carnaval alagoano – Neco e Natalina – que, todos os anos, era esperado, bem assim o velho Firmino – que desfilava com o seu cavalo totalmente vestido e o Tarzan, exibindo o tórax desenvolvido à base de halteres.
Haviam os concursos de passo e, nos Clubes Sociais, desenvolvia-se o carnaval das corporações, das classes e da elite. Orquestras do Recife – de Nelson Ferreira e Guedes Peixoto – ou da Paraíba – Tabajara, de Severino Araújo – exibiam-se em nosso Carnaval e, alagoanas da gema, haviam as Orquestras do 20º BC – sob a batuta do Major José de Barros, a da Polícia Militar – do Tenente Nicácio e a famosíssima e requisitada Orquestra de Fausto e Passinha, depois, substituída pela do Capitão – Maestro Ivanildo Rafael.
Nossa primeira Escola de Samba, a “Circulista de Ponta Grossa”, arrancava aplausos ao passar, anos depois, aparecendo as “Unidos do Poço”, “Treze de Maio”, Jangadeiros Alagoanos”, “Mocidade de Ponta Grossa” e “Girassol”.
Havia o “Corso”, durante os dias de Carnaval – Carros conversíveis, camionetes, jeeps, cobertos de confetes e serpentinas, desfilavam, vagarosamente, pela Praia da Avenida e Centro de Maceió, aspergindo lança perfume nos conhecidos que ficavam nas calçadas para ver o carnaval.
Figura marcante do Carnaval alagoano foi, sem sombra de dúvida, o Setton Netto. Comerciante do ramo de tecidos – a Casa Setton era de seu pai –, Setton era cantor de samba, do “cast” da Difusora. Sabia e interpretava todos os sambas canções do saudoso e famoso Cyro Monteiro – o “Formigão”. Foi o Rei Momo de reinado de maior duração. Folião por excelência, sabia, mais de que ninguém, desempenhar o papel de Monarca da Folia. Levava o cargo a sério.
Nosso Carnaval era tal e qual o que se faz no Recife. Aqui, só nunca fomos fortes no que diz respeito às culturas dos Maracatus, dos Caboclinhos e dos Papangús. Mas, em matéria de desfile, decoração e musica, era a mesma coisa, do tipo que, de uns dez anos para cá, vem tentando fazer os organizadores do “Pinto da Madrugada” e o que fez, toda sua vida entre nós, o saudoso e folião Radialista Edécio Lopes.

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